domingo, 28 de agosto de 2016

Da eudaimonia e seus paranauês da contemporaneidade

Aristóteles dizia que todo ser humano tem um fim, que é ser feliz. É certo que essa explicação simplista do que é ou para que serve o ser humano tem a ver com a forma como os gregos concebiam a possibilidade de conhecer as coisas ou os seres, por sua finalidade, ou como os mais chatos diriam, é influenciado por seu conhecimento teleológico. Puffs! Não sei pra quê complicar tanto as coisas com palavras difíceis! Rs
O que hoje consideramos que seja felicidade, Aristóteles chamava de Eudaimonia. É difícil traduzir para o nosso idioma o que exatamente significa, mas o pai dos burros me deu uma mãozinha. No Google diz que, aproximadamente, "eudaimonia" vem do grego antigo: εὐδαιμονία e é um termo grego que literalmente significa 'o estado de ser habitado por um bom daemon, um bom gênio', e, em geral, é traduzido como felicidade ou bem-estar.
Aí você me pergunta: o que esse cara quer dizer com isso?
Aristóteles, como um bom grego, queria conhecer o que é ser humano e entendeu que cada um de nós tem um lugar natural no mundo, uma função, algo que nasceu para fazer. e somente no convívio em sociedade descobriríamos essa tal coisa. Essa é a nossa finalidade, sermos felizes, termos uma vida eudaimônica!
Como seria maravilhoso se pudéssemos, um dia, sei lá, sentados num bar termos uma súbita revelação. De que aquele momento, aquele instante, te fez perceber que a sua vida valeu à pena. Que encontrou o seu lugar natural!
Não sei se sou eu ou se é a cerveja, mas vamos pensar na realidade! A vida é assim tão simples? Exercer a função social que sente que nasceu pra fazer, é o suficiente para lhe trazer felicidade? A felicidade é algo que nos trás realização de forma instantânea e essa sensação, consequentemente, se prolonga por toda a vida? 
São tantas questões que Aristóteles não responde, principalmente com toda a complexidade dos dias de hoje, que eu fico pensando que esse pensamento pode ser lindo e empolgante, mas nem sempre me cabe.
Por exemplo, eu sou professora, descobri que eu amo fazer o que faço, que acho incrivelmente impressionante trabalhar, é maravilhoso, mas cara, nem sempre só amar é o suficiente para ser feliz. Professor no Brasil é extremamente desvalorizado, são mal pagos, muitas vezes vistos como chatos ou, no caso da galera de humanas, loucos, pentelhos, depressivos e maconheiros. Nada contra quem é louco, pentelho, depressivo e maconheiro, deve ser muito difícil ser isso tudo, ainda mais ao mesmo tempo. Porém ser visto assim, profissionalmente, não é muito legal.
Então pense comigo, você vestiria a roupa aristotélica? E se ela deixasse de te cobrir alguma parte e te fizesse sentir desconfortável? O Rio de Janeiro é quente, um ventinho a mais sempre cai bem, mas...
A filosofia é algo incrível, te permite pensar na vida e se encontrar no mundo, que cada dia que passa está mais confuso. Só que tenho percebido toda essa filosofia teórica nos distancia da atividade filosófica prática. Da possibilidade de pensar e desenvolver ideias novas e inusitadas para a existência. Ser filósofo não é difícil, nem tão pouco impossível...
Mas voltando a ideia de Aristóteles, antes que eu me perca nas lamentação, provavelmente causada essa cerveja quente que estou bebendo, nem tudo o que ele disse não se aplica a realidade. Ele tem contribuições importantes para se ter uma vida, se não feliz, ao menos agradável. Ele em sua ideia de vida feliz, nos dá uma responsabilidade sobre o bem-estar ou a felicidade dos outros. O que na atualidade eu consigo identificar que as pessoas realmente não tem.
Para ele se você for, durante sua vida na terra, bancar o pensador e vegetar ao invés de colaborar para o bem comum, ou se se render aos vícios, que são umas paradas muito ruins que a gente faz e ferra com os outros, você além de não ter uma vida eudaimônica, você ainda é um baita do babaca.
Nossa! Com certeza lendo isso você identificou um monte de gente que empata a felicidade dos outros!
O mais legal disso tudo, é que na cabeça do Ari, todo o fluxo universal depende de termos uma vida eudaimônica. Então se você diz que não tá nem aí pra isso, e que esse lance de busca da felicidade só existe no filme do Will Smith, que ademais é uma ótima indicação de filme, e que sua felicidade está numa aposentadoria, num prêmio de loteria, em coisas totalmente alheias a você, sinto lhe dizer que é um empata foda universal, e que quando pensar que o universo não conspira a seu favor, é por isso! Rsrsrs... 
Porém temos que ser coerentes, a vida não é tão simples quanto gostaríamos que fosse, e uma vida plenamente feliz não é algo que dependa somente de um momento. Que o cotidiano é um caos, e constantes conflitos, como defenderia Schopenhauer "Se olharmos a vida em seus pequenos detalhes, tudo parece bem ridículo. É como uma gota d`água vista num microscópio, uma só gota cheia de protozoários. Achamos muita graça como eles se agitam e lutam tanto entre si. Aqui, no curto período da vida humana, essa atividade febril produz um efeito cômico." Acho que, além de estar meio tonta, a receita para uma vida feliz, é, sim, buscar uma existência eudaimônica na terra, mas ter em vista, como Schopenhauer, que merdas acontecem!
Isabella Stoianof

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Discussão II – Será que Platão sabia mesmo das coisas ou ele era mais um chato que complicou o amor?

É muito sabido que ele gostava de um vinho, então de todo ruim já sabemos que ele não era.
No discurso “O Banquete” Platão nos permitiu ter uma outra consciência sobre o Amor. Ah o Amor! Muito antes de toda essa ideia romântica sobre o que é o amor, Platão dizia que o amor é a idealização de algo que nos falta e que temos a ideia de que exista no outro, ou seja, o amor é o amor pela falta. E você aí pensando que era uma coisa romântica né, coitado! O romantismo não tem vez na filosofia, a não ser em caras como Stendhal e Kierkegaard, tudo que se refere ao amor em Platão é mais racional do que romance.
Como todos sabem Platão é considerado por muitos como um dualista, um daqueles caras que dividem o mundo em duas partes como quem define o mundo entre quem bebe de verdade e quem bebe leite com pera.
Para ele há dois mundos, o mundo dos que bebem é aquele mundo onde as ideias correm soltas, é o mundo da realidade das coisas. E o mundo de quem bebe leite com pera, que aquele mundo das aparências, das ilusões, onde as coisas parecem ser o que são, e apenas parecem.
Se trouxermos essa ideia para a forma como vemos o amor encontramos Eros, que é o amor de Platão. Vamos tentar ver isso dividindo nossas vidas em duas vidas. A primeira parte dela, que seria a adolescência, é a parte do Leite com pera, uma vida de ilusão, uma vida em que você deseja tudo aquilo que falta, ama outra pessoa porque deseja o que há nela e que falta em você, o ser amado.
A segunda vida, que nesse caso seria a vida adulta. É babe, essa é a vida em que a realidade chama, clama, onde a razão fala mais alto que o desejo! Nem sempre.. Essa é a fantástica vida dos bebedores, dos bons bebedores!
Bebedores de leite com pera, imaginam as coisas como uma criança imagina que um conto de fadas é real, e essa é a graça para eles. Não! Não pense que concretizar esse desejo seria um sonho realizado para os Bebedores de Leite com Pera! Talvez no início fosse um sonho realizado, ter o seu amado ao seu lado, tomando chop e comendo batata frita, mas depois... o lance tá sempre no depois, se tornaria realidade, e a realidade acaba com qualquer sonho. Porque no sonho qualquer coisa é possível, na vida real nem tudo cabe.
Existe na atualidade uma cultura da insatisfação, onde ninguém se sente completo com aquilo que tem, porque o grande lance é querer sempre a sensação da conquista. Como se vivêssemos em constante busca de outro algo ou alguém, pois o movimento de estar sempre buscando é mais excitante do que apreciar o que foi conquistado. Se na nossa cultura conquistar algo fosse o ápice, cada um ficaria feliz com aquilo que tem. Assim um celular bastaria, uma calça jeans bastaria, uma selfie bastaria, uma única pessoa com dividir a vida, ou a cama, bastaria.
Essa cultura promove um espetáculo 24 horas dia, basta olhar os sites de redes sociais para ter a prova, e se algo não mais te satisfaz, você descarta. A rede social reflete exatamente o nosso conceito de relacionamento do nosso tempo, você não quer, não curte, você não quer, não bloqueia, você não quer, não segue. As ferramentas estão ao alcance das nossas mãos, nos permitindo ter a sensação de que controlamos todos os aspectos da nossa vida. Será que essas ferramentas não são a nossa válvula de escape para aquilo que não podemos fazer na realidade e realizamos na vida virtual?
Eu já não sei se são as ideias ou se é a cerveja, mas a impessoalidade está implícita a essa nova era, como se as pessoas com quem nos relacionássemos não existissem na realidade, assim não se magoa, nem é magoado?
Acho que é por isso que a gente gosta tanto das redes sociais...só não sabemos dizer ao certo se é porque ela nos tira a responsabilidade sobre os nossos atos ou se é porque nos permite sonhar enquanto estamos acordados, ou será as duas coisas ao mesmo tempo?


Discussão I - As mentiras que inventamos para nós mesmos

Por que mentimos para nós mesmos?
Essa é uma pergunta difícil de ser respondida em poucas palavras! De certo a insegurança tem grande parte de culpa nisso, nessas pequenas fantasias que criamos em nossa cabeça para tentar explicar a nós mesmos questões que, no momento, não sabemos responder, nos perdemos da verdade e deixamos de lado o principal, a busca pelo autoconhecimento.
Um grande filósofo certa vez deixou um dos maiores conselhos possíveis para uma vida honesta e comprometida consigo mesmo “Conheça-te a ti mesmo”. Sócrates sabia que esse era o segredo para uma vida feliz, de grandes problemas e confusões, porque afinal de contas, isso é o que dá graça à vida, mas com realizações e a certeza de que se conhecendo está no caminho mais acertado para a descoberta do seu próprio universo.
Em nossas relações que temos com as pessoas, muitas vezes, nos vestimos de máscaras para nos adequarmos a algumas situações. Essa é a resposta que devolvemos a sociedade quando ela nos cobra atitudes que nem sempre se enquadram com as que verdadeiramente acreditamos. O primeiro exemplo disso acontece quando estamos diante de alguém que consideramos importante, queremos parecer importante para ela em retribuição a importância que damos a essa pessoa. Como se essa atitude fosse um escudo psicológico que criamos para nos defendermos da nossa insegurança, causada pelo medo de não sermos aceitos pelo outro. Nesse sentido estamos sempre mentindo.
Em nossas bebedeiras filosóficas chegamos a outra questão, será que o medo do outro, do que o outro pensa ou pode pensar, é maior do que a nossa própria compreensão sobre quem somos na realidade?
Então, devemos pensar que esse medo é uma espécie de mediador das convenções sociais, para impedir que nos tornemos aquela pessoa sem filtro, aquela que faz tudo o que quer, diz tudo o que pensa sem se importar com os demais. Nesse comportamento existem dois lados, o lado em que você finge, você pondera o que diz, para evitar mágoas e desentendimentos no seu convívio social, porém corre o risco de se perder de quem é, que em meios as máscaras, não consegue achar sua verdadeira face.
No entanto, há um outro lado. Por mais que honestidade em exagero cause danos, ela também proporciona uma maior liberdade pessoal, em que você se conhece e tem a possibilidade de expor o que pensa e sente. Mas este ato não pode ser considerado um mecanismo de autopreservação? Em que você evita expor totalmente suas fraquezas a fim de se proteger de possíveis ameaças?

Não sabemos se é essa ideia ou se é a cerveja, mas não parece um resquício de um instinto primitivo? Se antes, no período em que os homens andavam com as bundas peladas e vivam nas cavernas, o maior dos perigos era ser devorado por uma fera, na atualidade mesmo apesar da violência urbana, o que causa mais medo é se sentir inseguro ou ameaçado emocional e psicologicamente pelos outros, não é?

Apresentação das botequeiras

     Aline Soares é uma professora carioca, poeta, formada em Ciências Sociais, musicista e compositora.
Apaixonada por filosofia e por bom whiskey!
Idealizadora do Botecando Filosofia. Lançou em 2005 o livro "Tudo é Poesia", participa de saraus na Zona Oeste e tem o ambicioso objetivo de lecionar sociologia, filosofia e história na rede estadual do Rio de Janeiro.

   Isabella Stoianof estudou e se formou com Aline em Ciências Sociais, é professora da rede estadual do Rio de Janeiro, pretendente a poeta, uma pessoa complicada que adora escrever e falar sobre filosofia acompanhada de uma cerveja gelada ou um bom vinho, depende do clima.