sábado, 24 de setembro de 2016

Discussão III - DèjaVu do amor: o vivido, o não visto e o que pode ter sido sentido

Imagine que você está diante de um espelho, de frente você vê seu reflexo te encarando. Um reflexo, talvez mais jovem, talvez mais velho, que te mostra nitidamente tudo o que você é, tudo o que foi e o tudo o que terá de ser... sempre!
Nossa, que iniciozinho de discussão difícil! Deixe eu pegar um outra dose de whiskey aqui para lubrificar o pensamento...
Sabe quando naqueles filmes americanos, acontece a confraternização de dez, vinte ou sei lá quantos anos, para reunir as turmas do colegial e lembrar do baile de formatura? Situaçãozinha ruim, né...aí você relembra todas as paixões que ficaram pra trás, todos os amigos que não via mais, aquela pessoa que você era super a fim e achava lindíssima, e percebe que essa pessoa é tão linda quanto um hipopótamo banguela... Nesses momentos você é inevitavelmente convidado a retornar ao passado e reviver, mesmo que por lembranças, tudo o que foi vivido, sentido e visto naquela sua época tão áurea.
E se você, a partir daquele momento, tivesse de reviver tudo novamente, exatamente como foi vivido? Calma aí gente, não bebemos o suficiente para tanto... Essa ideia, de ter que reviver a vida com tudo o que foi vivido, novamente e eternamente, é o conceito de Eterno Retorno de Nietzsche. Não, não tem letra demais nesse nome, é assim mesmo!
Esse cara do bigode charmoso, pede que pensemos nessa questão, que dentro desse exemplo da 'reunião de amigos' não é muito impossível de se pensar, todo mundo tem aquele amigo pentelho que lembra todos os seus micos e furos na frente dos outros, esse amigo é o demônio de Nietzsche! É chato ter alguém que faça isso, porque além de nos envergonhar ver todas as nossas falhas expostas, também gostamos de acreditar que não somos mais aquela pessoa.
Outro exemplo disso é, se a pessoa tem o hábito de escrever em diários se permita reler todas as suas experiências naquelas páginas. Dependendo da época em que se trata o pensamento será: 'Nossa, como eu era bobo!' , ou com álbum de fotos 'Não acredito que eu usava esse cabelo', tente então fazer esse exercício de 5 em 5 anos, a conclusão será sempre a mesma : 'Nossa, não acredito que usava esse cabelo!', 'Quem é essa criatura do meu lado?', 'O que eu estava pensando nessa época?', e como fazer para não reviver eternamente essas mesmas questões?
'Mermão', não podemos te dar essa resposta! Certamente você já tem as dicas que necessita para encontrá-la nessa nossa conversa... Porém, como somos pessoas muito boas, de copo principalmente, vamos continuar desenvolvendo o pensamento contigo, só com você, não conta pra ninguém...Xiu! É segredo!
Existem pessoas que passam a vida inteira vivendo e revivendo a mesma conduta, as mesmas relações, os mesmos erros, as mesmas dores como se nunca as tivesse vivido. Se essas pessoas tiverem que presenciar o Eterno Retorno de suas vidas, teriam que se deparar com todas alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, exatamente da mesma forma. Para que não haja arrependimentos sobre sua vivencia é importante que se orgulhe da vida que se teve, que compreenda que tanto seus erros como seus acertos, se houve aprendizado com eles, estes o levou ao lugar onde você está agora, te permitiu se encontrar com o ser que você é agora, e reconhecer a urgência de se viver a vida e amá-la como ela é, pelo que ela é, é uma virtude.
Amar a vida pelo que ela é, com todas as suas confusões e todo o seu caos, e vivê-lo de forma plena entendendo que é assim que ela é " C'est la vie", é amar o destino, e o amor pelo destino é o Amor Fati, a saída menos dolorosa para se viver o eterno retorno que está ou não por vir...
O barato dos paranauê do Nietzsche é que a vida é como aquele whiskey caro, de cheiro doce e marcante, que desce pela guela como veludo, e que você bebe cada gole como se fosse o último...É assim, não sei se é porque já bebemos uma garrafa de vinho e estamos na metade de uma de whiskey, mas o amor fati é beber cada gole da vida como quem bebe o hidromel mais doce, a cerveja mais gelada do verão com a consciência de que o faz sem arrependimentos, e que se tivesse que reviver tudo novamente não teria medo, mas prazer.
Por fim, imagine que você está diante de um espelho...


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                                            Meia Noite em Paris

4 comentários:

  1. Estou indo para frente do meu espelho, mas como sempre digo nunca me arrependo do fiz ou vivi pois era a minha escolha no momento e me levou a ser o sou hoje, mas não custa tentar mais uma vez estou indo...

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  2. Tento olhar para o espelho e vejo o meu reflexo e tento olhar para o espelho e tento ver o meu reflexo...

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  3. É sempre bom exercitar essa auto análise, mas também não deixar que o que foi feito pese como uma sentença...

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